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Artigo: Big Brother Brasil e nossa vida entre telas

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Em 1949, George Orwell lançava seu romance 1984, em referência a essa obra, foi batizado o reality show mais popular do país, o Big Brother Brasil, atualmente pauta de tantas conversas em ruas e redes sociais por aí. Na narrativa de Orwell um aparelho chamado teletela, uma espécie de TV em que ao mesmo tempo que os telespectadores assistiam às transmissões, eram observados pelo Grande Irmão, personagem que representa o chefe do Estado totalitário que é cenário daquela história.

Ano passado, com boa parte dos brasileiros confinados em casa, me parece que passou a ser mais comum que pessoas admitissem o interesse nesse programa sem medo de parecerem menos cultas, talvez, mas ainda hoje há quem torça o nariz e se infle ao declarar “eu não perco meu tempo assistindo isso”, confesso que passei por essa fase. Hoje justifico meu interesse no programa afirmando, quase como quem se desculpa, que ele tem como ponto central o tema mais antigo e caro às artes: as relações humanas. E como os humanos são fascinantes de se observar! Especificamente esta edição 2021, uma questão tem contribuído para tornar essa atração ainda mais interessante: como na teletela, estamos observando e sendo observados, à medida que, o que assistimos é um retrato nosso enquanto seres sociais que hoje se relacionam também em um mundo digital.

Nesse nosso século XXI vivemos cercados de telas, assistindo e sendo assistidos, admirando e posando, comprando o peixe alheio e vendendo nosso próprio através delas. Escolhemos nossos melhores ângulos, aplicamos filtros, levantamos hashtags e submetemos nosso produto aos nossos espectadores, que nos avaliam com os botões de julgar: curtir, comentar, compartilhar. Aliás, alguém já pensou em como soa bizarro dizer que “seguimos” alguém e temos “seguidores”? Enfim, construímos post a post nossa narrativa pessoal, mas até onde acreditamos nessa ideia que divulgamos de nós mesmos? Nossas ações são coerentes com as ideias que defendemos publicamente?

Em tempos de filtros e hashtags nos empolgamos aclamando heróis para no dia seguinte condená-los ao cancelamento. Tão fácil quanto nos enganarmos sobre os outros é nos iludirmos sobre nós e a ideia que fazem de nós.

Quantos dos brothers foram completamente surpreendidos ao entrar na casa com uma legião de fãs e saírem eliminados com porcentagens constrangedoras de votos enquanto outros ainda lá dentro sofrem a angústia de acharem que estão sendo nacionalmente odiados quando, na verdade, conquistaram milhares de seguidores? Diante disso a pergunta que se impõe: até que ponto nos vemos com clareza?

Enfim, esta foi a minha primeira coluna para o Costa Leste News. Mais um capítulo da minha narrativa pessoal que agora submeto ao seu julgamento, caro leitor, com a esperança de não ser cancelada (por enquanto).

Artigo: Big Brother Brasil e nossa vida entre telas

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