Campo Grande (MS) – Você tem repulsa a serpentes? Medo? Saiba que esses animais são tão importantes para o equilíbrio do ecossistema como todos os outros. Além disso, o veneno retirado é utilizado em pesquisas para o desenvolvimento de fármacos benéficos para o homem.
Uma pesquisa desenvolvida pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB) estuda as serpentes peçonhentas encontradas no Mato Grosso do Sul. O projeto “Diversidade de parasitas em serpentes peçonhentas em duas áreas contíguas com diferentes formas de ocupação” é coordenado pelo professor Heitor Miraglia Herrera e tem como objetivo conhecer a diversidade biológica de parasitas e o estado de saúde das serpentes peçonhentas de vida livre oriundas de duas áreas com diferentes usos da terra do Distrito de Taboco.
Todas as serpentes capturadas recebem um chip identificador que indica um registro no cadastro federal de animais do Sistema Nacional de Gestão de Fauna Silvestre (Sisfauna). A equipe realiza a coleta de sangue, exame de fezes, avaliação clínica e termográfica. Quando diagnosticada alguma alteração, os animais passam ainda por uma avaliação de imagem através de ultrassom e raio-x.
“A proposta inicial do trabalho é justamente observarmos essa relação parasitária que acomete as serpentes de vida livre”, afirma a professora e pesquisadora da UCDB, Paula Helena Santa Rita, integrante do grupo de pesquisa. De acordo com a pesquisadora, os dados iniciais indicam que em áreas antropizadas, que são as habitadas pelo homem, foi encontrado maior número de serpentes e com a saúde mais vulnerável. “Os animais capturados nessas áreas estão em uma condição de saúde muito mais comprometida que as serpentes que foram capturadas em áreas preservadas e conservadas”, explica.
Existem diversos grupos animais que são monitorados para avaliação da sanidade em vida livre. A pesquisadora ressalta que entendendo a biologia e a sanidade desses animais na natureza é possível ter parâmetros, inclusive, para manutenção, gerando uma melhor condição desses animais em cativeiro. “É necessário entender o ciclo das cargas parasitárias dos agentes infecciosos que fazem de hospedeiros as serpentes para se ter uma melhor manutenção desses animais em cativeiro, tendo em vista que hoje a bioprospecção é um ponto crucial nas pesquisas nacionais e internacionais. Existem muitos grupos internacionais que se interessam muito pelas serpentes peçonhentas brasileiras, principalmente, pelo uso do seu veneno dentro da indústria farmacêutica”, ressalta Paula Helena.
“Quando a gente fala em preservar ou conservar a jararaca, todo mundo já recua. As serpentes de modo geral são vistas pela população como um animal que causa repulsa e medo. Porém, como todos os outros animais, elas estão presentes no equilíbrio do ecossistema”. Paula Helena explica que não é interessante que a população mate esses animais e sim capture e entre em contato com os órgãos responsáveis, que são a Polícia Ambiental e o Biotério da UCDB.
Atualmente, a comunidade da região estudada no projeto está instruída a preservar esses animais. A pesquisadora relata que o maior número de serpentes foi capturado pela população e não pelas armadilhas. A ideia é que seja um modelo para as demais regiões. “A interação da população do Taboco foi muito bacana e a proposta é elaborar cartilhas educativas para serem utilizadas nas escolas da região. Para nós, já é um super avanço na questão da educação ambiental”, finaliza.