
Aparecida do Taboado (MS) – Durante sessão ordinária do Poder Legislativo nesta segunda-feira (18), o plenário da Câmara ficou lotado de manifestantes de Aparecida do Taboado e de cidades da região, como Santa Fé do Sul e Santa Clara D’Oeste, ambas do Estado SP, cobrando o apoio político dos vereadores do município contra o emissário de esgoto sanitário que está sendo implantado pela Sanesul às margens do Rio Paraná, nas proximidades do Balneário do SIMTED.
Em entrevista exclusiva ao Costa Leste News, a empresária Leila Mussi, proprietária da Pousada Estância São Matheus e desde 2013 uma das principais mobilizadoras do movimento contra a instalação do emissário no local escolhido pela Sanesul, explicou a manifestação pacífica: “estamos tentando mobilizar a Câmara de Aparecida do Taboado para que haja uma tentativa administrativa e política sobre o lançamento do emissário num ponto não muito interessante para o município e para proprietários ribeirinhos daquela região”.
Leila assegurou que a obtenção das licenças ambientais da empresa junto ao Imasul tramitou “de maneira enganosa”, já que, segundo ela, a Sanesul informou ao órgão, em 2013, que na região onde o emissário seria instalado não havia empreendimento turístico e nem ranchos de lazer, sendo que o Loteamento Lago Azul já funcionava no local e a licença de operação do Balneário SIMTED também é anterior à licença de instalação do emissário.

A empresária ainda diz estar preocupada com o desenvolvimento econômico do município, impulsionado pela cadeia produtiva do pescado, que também deverá ser afetado. “Por que os piscicultores do Rio Tietê estão vindo para o Rio Paraná? Porque aquela carne, aquele pescado, produzido no Rio Tietê tem tido uma vida de prateleira (o tempo que o pescado aguenta resfriado ou congelado) de baixa qualidade. E é o que querem fazer com o Rio Paraná, pois naquela região onde o emissário está sendo instalado há vários empreendimentos de piscicultura e todos serão prejudicados”, justificou ela.
Por fim, Leila explicou que ninguém é contra o lançamento do emissário no Rio Paraná, mas contra o local onde ele está sendo instalado. O movimento, segundo ela, pede justamente que as autoridades abram espaço para que a comunidade participe dessas decisões, “quero deixar bem claro que não sou idiota a ponto de falar: não vai poder jogar no Rio Paraná. O problema é que precisa escolher o local onde vai ser lançado. Esse local não pode ser turístico e nem pode ter empreendimentos de piscicultura porque na água terá escherichia coli, ou seja, vai ter contaminação fecal. A questão é essa”, finalizou.
A fisioterapeuta Anaí Monteiro Marques Zolin representou os rancheiros de Santa Fé do Sul e garantiu o apoio também das cidades de Santa Clara D’Oeste, Três Fronteiras, Rubinéia e Ilha Solteira, no noroeste paulista. Segundo ela, a Sanesul precisa explicar o projeto também para estes municípios porque eles ‘não querem compartilhar o esgoto de Aparecida do Taboado’ sem ter a certeza de que será devidamente tratado.
“O Rio é da União. Não é só Mato Grosso do Sul que será prejudicado. São Paulo e Minas Gerais também serão e é por isso que estamos aqui. Esta empresa está fazendo estas obras na surdina. Há duas semanas, ninguém do Estado do São Paulo sabia que tinha essa obra. Nenhuma das autoridades políticas das cidades da região sabia. Nós estamos aqui para contestar. Queremos saber que obra é esta”, disse ela.
E continuou: “se o tratamento do esgoto for feito 100% como é feito nos municípios vizinhos e jogado mais adentro do leito do rio nós até podemos conversar, mas do jeito que está fazendo não vamos aceitar. Aparecida do Taboado vai arrumar confusão com todos os municípios aqui em volta porque ninguém aceita isso. E nós vamos vencer porque não tem cabimento o que estão querendo fazer com o Rio Paraná. Nós vamos, inclusive, entrar com mais uma ação no Ministério Público Federal”.

O vereador Moysés Chama chamou a responsabilidade também para o Executivo e apontou uma sugestão: "aqui no projeto é bonito, mas e o que vem ocorrendo no Rondinha, nós vamos deixar acontecer no Rio Paraná? Estamos lutando, fazendo nossa parte. No papel está certo, mas na prática não. Precisamos nos mobilizar. Se esse emissário for adiante, que seja construída então uma lagoa de decantação. O Executivo precisa assumir a responsabilidade para que não aconteça um crime ambiental”, encerrou.
Durante a sessão, os vereadores foram unânimes e aprovaram Moção de Repúdio à Sanesul. A maioria dos vereadores colocou em cheque a credibilidade da empresa e questionou se o esgoto será tratado devidamente, "como acreditar neste projeto de esgoto da Sanesul se furaram um poção que não oferece água adequada; o serviço de tapa buracos é insatisfatório e já causou até uma morte; uma rede de amianto que não foi trocada até hoje. Agora, como acreditar nesse emissário? Isso é uma afronta à nossa população”, disse o vereador Marcelo Fagundes.
O emissário

Segundo o diretor de engenharia da Sanesul, Helianey Paulo da Silva, o emissário faz parte de uma série de melhorias que a empresa vem fazendo no município, inclusive na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), e que após a conclusão das obras, a rede coletora de esgoto em Aparecida do Taboado passará de 17,5% para uma cobertura de 26,2%. Um investimento que ultrapassa R$ 6 milhões.
Ele ainda garantiu que o emissário não trará danos ambientais ou ao desenvolvimento turístico e econômico do município, uma vez que o projeto possui todas as licenças exigidas por lei, inclusive do Imasul e da Agência Nacional de Águas (ANA).
Helianey ainda fez questão de destacar que o esgoto tratado será lançado de forma submersa, a 150m do leito do Rio Paraná. De acordo com ele, com a implantação da estação elevatória final a capacidade da ETE passará para 20L/s ante os 4,20L/s praticados atualmente, “foi feito um minucioso estudo e o projeto envolve vários profissionais que respondem pela obra. Não é uma brincadeira. Nós estamos melhorando a estação de tratamento e progredindo neste sentido para atender e melhorar a qualidade de vida da população”, afirmou.
Sobretudo, Helianey não escondeu a situação lastimável do Rondinha, que vem sendo criticada pela população e é a principal causadora da desconfiança quanto ao tratamento do esgoto. Entre outras coisas, ele reconheceu a precariedade do serviço e justificou a necessidade desse investimento que a Sanesul está fazendo, destacando, também, que a empresa pretende iniciar um projeto para recuperar o córrego, “nossa intenção, inclusive, é restaurar o Rondinha”, disse ele.

