Campo Grande (MS) – Suicídio é questão é de saúde pública. Estatísticas mostram que nove em cada dez mortes poderiam ser evitadas. Falar, quebrar tabus, superar estigmas e senso comum, alertar a população e conscientizar são tarefas cotidianas, mas, neste mês, ganham sentido especial: é o Setembro Amarelo, movimento para prevenção do suicídio. A data (dia 10 de Setembro) tem objetivo de sensibilizar e conscientizar a população sobre os altos índices de suicídio no mundo e que essas mortes podem ser prevenidas. Para a psicóloga, Michele Scarpin, Gerente da Rede de Atenção Psicossocial da Secretaria de Saúde do Estado, o “Setembro Amarelo” em Mato Grosso do Sul é o ano inteiro. Desde 2017 o Governo vem adotando medidas de prevenção e cuidados, de acordo com as diretrizes organizacionais do Ministério da Saúde para ações de prevenções em seis Estados brasileiros, entre eles Mato Grosso do Sul (que aparece nas pesquisas em terceiro lugar. Rio Grande do Sul e Santa Catarina são respectivamente o primeiro e segundo Estado com maior número de ocorrências).
Informações e abordagens corretas
Comitê Gestor, criado pela Secretaria de Saúde, composto por 40 profissionais de diversas áreas da saúde que selecionou 15 municípios – baseada em índices de suicídio – para implantação do programa de prevenção. De acordo com a psicóloga, antes os dados eram incipientes, porque a maioria dos profissionais de saúde não conheciam e não sabiam da necessidade de fazer a notificação correta na ficha do paciente. E isto, segundo ela, tem muito a ver com tabu que cerca o tema. “Muitas vezes a própria família não quer notificar o suicídio – ou a tentativa de suicídio- porque teme que isto se torne um problema policial”. Por esta razão, quando se fala em números não se pode concluir que houve aumento no número de ocorrências. Mas o número de notificações é que está aumentando.
Este é um dado positivo que reflete o trabalho que está sendo feita nos municípios pelos profissionais da Secretaria de Estado de Saúde. Durante três dias, especialistas nas áreas de psicologia, assistência social, psicopedagogia, junto com um médico local, organizam um treinamento intensivo, que inclui principalmente a abordagem correta e sensível ao paciente, no caso de tentativas. “Sabemos que o indivíduo que comete suicídio já tentou outras três ou quatro vezes”, explica Michele, reiterando a importância dos registros. Com esta informação e o acompanhamento terapêutico, o óbito tem muita chance de ser evitado, atesta. Além de treinar os profissionais, a Secretaria também ajuda a população a desmistificar o assunto.
A população também recebe folders com linguagem acessível e desenhos que mostram sentimentos. Os profissionais de saúde recebem cartilhas de bolso com informações e sugestões de abordagem. “A pessoa que está em sofrimento não vê saída”, explica Michele. Treinar os profissionais corretamente e informar as medidas corretas é um passo importante na prevenção. No futuro, diz a psicóloga, os dados coletados poderão ajudar a melhorar o monitoramento. “Vamos poder direcionar a ação para a necessidade de cada município “, afirma, lembrando que cada região tem suas especificidades. A região do Conesul , por exemplo, tem uma grande população indígena que está sendo bastante afetada. “Eles não têm casa, comida, nenhuma perspectiva de vida”, situação em que a entrada do álcool e da droga facilitam o suicídio. O óbito entre eles atinge principalmente homens na faixa de 10 a 20 anos. “As crianças acabam imitando os adultos”, explica.
Quem também participa desta frente de prevenção são as universidades _ UFMS e UEMS, parceiras do projeto na coleta de dados científicos. “A questão é complexa, e o setor da Saúde não dá conta sozinho, é preciso o envolvimento de outros setores, inclusive da Secretaria de Segurança”, diz, explicando que as drogas potencializam o problema. Sensibilizados pela questão que desde 2015 está sendo alvo de campanhas, nos últimos anos, escolas, universidades, entidades do setor público e privado e a população de forma geral se envolveram neste movimento que vai de norte a sul do Brasil.
Toda ajuda é bem vinda
O aumento no número de suicídio entre adolescentes e jovens é preocupante. Pensando em reduzir os crescentes índices desse tipo de ocorrência entre pessoas de 14 a 24 anos de idade, o CVV (Centro de Valorização da Vida) lançou três séries de vídeos com informações. O material é livre e gratuito. E conta com o apoio da Unicef. A ideia é fomentar o diálogo aberto e livre de tabus. Cada série foca um público específico.
A primeira é composta por seis vídeos de um minuto cada um. São direcionados para os jovens. Assim, apresentam depoimentos em primeira pessoa sobre problemas característicos dessa faixa etária que podem comprometer a saúde emocional. Entre eles, o uso de drogas, abuso sexual, discriminação e pressão por notas.
Outra série de seis vídeos se volta para pais e educadores. Neles, especialistas discutem sinais no comportamento que indicam a necessidade de prevenção. Também são abordadas os papeis da família e da escola nessa questão.
Por fim, há uma série com seis videoaulas, além de um guia em pdf, para a formação de facilitadores de grupos de apoio a sobreviventes do suicídio.
Confira o link: https://catracalivre.com.br/saude-bem-estar/cvv-lanca-videos-para-prevenir-suicidio-entre-adolescentes/