O Clube do Ipê é mais um dos afetados pela possibilidade de surto do novo coronavírus. Com a ameaça iminente, os jogadores que costumam passar à tarde em volta das mesas de jogos de baralho, com as cartas nas mãos, se viram sem a diversão do dia a dia.
Bastante conhecido na cidade, o Clube do Ipê concentra diariamente inúmeras pessoas embaixo de uma gostosa sombra arborizada na esquina da Feira do Pequeno Produtor para jogos de cartas, principalmente o famoso ‘truco’. Eles passam o dia se divertindo no carteado, alternando entre si os lugares nas mesas.
Com a necessidade de isolamento social, as mesas ficaram vazias esta semana e o silêncio invadiu o lugar. Seu Zé Pinheiro, que foi quem teve a ideia de formar o grupo, conta que é muito triste ver o lugar nesta situação, mas entende a necessidade do momento já que a maioria dos jogadores fazem parte do grupo de risco.
Ele conta que o Clube do Ipê surgiu em novembro de 2018, depois dos participantes não se sentirem mais à vontade na Praça Três Marias, “lá tem o hospital e o velório, então, às vezes, a gente ficava sem graça em falar mais alto, coisa que faz parte do jogo, né. Aí eu tive a ideia de aproveitarmos essa sombra aqui”, conta ele, que mora em frente ao lugar e é o ‘guardião das cartas’.
Seu Zé diz que contou com a ajuda de mais outros 4 ou 5 amigos para dar início à construção das mesas e bancos, que foram feitos por eles mesmos, “cada um ajudou com um pouco em dinheiro para a gente comprar o cimento e as outras coisas. Eu trouxe uns pisos de casa e os amigos trouxeram também, aí fizemos os bancos. Os outros jogadores vieram depois, com o tempo e vão ajudando como podem”, explicou.
No começo foi construída apenas uma mesa. Com o passar dos meses, o grupo começou a recebe cada vez mais pessoas e surgiu a necessidade de construir novas mesas. Hoje já são três, “tem final de semana que chega passar de 40 jogadores aqui”, disse ele.
Esperançoso que a situação logo chegue ao fim, seu Zé diz que também assistiu o mundo se assustar com os dias sombrios da febre amarela e da malária, além de outras doenças, mas diz que “o povo não pode desanimar”, precisa acreditar que logo encontrarão a cura, “mas eu já fiz meu engarrafado e estou tomando”, disse ele, sobre um remédio natural que aprendeu a receita com o pai e que segundo seu Zé, “é bastante poderoso”. No entanto, os cuidados e as práticas de higiene têm sido seguidos à risca por toda a família, como ele garantiu.
Com o decreto municipal e a declaração da Organização Mundial de Saúde sobre a pandemia do Covid-19, o isolamento social aliado às práticas de higiene pessoal são as principais ferramentas de combate à disseminação do vírus e, consequentemente, do número de pessoas infectadas. Aparecida do Taboado até quinta-feira (data de fechamento desta edição) não registrava nenhum caso suspeito ou confirmado da doença. No Brasil, até agora, são quase 2 mil infectados e cerca de 40 mortes pelo vírus.