“A gente morre para provar que viveu”
Pego emprestado a frase de Guimarães Rosa em ‘Grande Sertão Vereadas’ para lembrar o quanto o Zé Ancelmo viveu intensamente nas mais diferentes épocas e situações em Cassilândia e Campo Grande.
Vivenciamos momento de impotência pelas circunstâncias pandêmicas, impedindo a despedida em velório, importante na assimilação da perda e confecção do luto que retrata os sentimentos e afetos.
Ainda no domingo recebi dele a seguinte mensagem via celular: “Trombei com o Corona. Vou nocauteá-lo. Vamos falando no zap por enquanto.’ Vieram os dias de expectativas e a notícia da morte, que é algo no limite do inaceitável. Aliás, a morte é colocada num patamar bem distante, como algo que viesse atrapalhar a nossa agenda estressante de compromissos.
Unanimidade com quem conversei. o Zé foi brilhante em sua trajetória entre nós. Sua ascensão funcional jamais influenciou ou alterou sua postura. Tranquilo, simples na fala e gestos, mais ouvia do que falava nos ambientes em que transitava. Não esqueceu as suas raízes. Ajudou financeiramente pessoas anônimas, gente do meio artístico, amigos e entidades de todo o Estado. Sua generosidade inigualável; jamais recorreu a justiça ou outros meios para tentar receber quantias que emprestara.
No meu ponto de vista entendo que com a morte dele fecharam-se as portas do último ‘pronto socorro’ que atendia aos reclamos não só das pessoas de Cassilândia como de toda região que necessitavam de sua ajuda ou apoio em Campo Grande. Sua influência nos órgãos oficiais, sua credibilidade e conhecimento em diversos segmentos e áreas facilitaram a vida de pessoas das mais diferentes camadas sociais.
Só morando aqui é possível ter a dimensão exata do seu prestígio, do quanto era realmente querido, estimado em todos os segmentos sociais. O Zé Ancelmo não pode ser visto apenas como um homem público, político inclusive. Precisa ser olhado como cidadão honrado, prestante, chefe de família exemplar, amigo de um coração generoso. Repito: do Zé Ancelmo; só boas lembranças.