Com a confirmação do afastamento de Dilma Rousseff, os produtores aguardam por um panorama político mais claro e definido para terminar de vender seus estoques. Segundo alguns analistas, o impeachment seria o melhor cenário para o agronegócio, porque apesar do fortalecimento do Real, haveria taxas de juros mais baixas e maior demanda interna durante a presidência de Michel Temer.
Atualmente, cerca de 60% da safra de milho está vendida e perto de 30% da safra de soja está por ser liquidada. Na véspera do impeachment, o Dólar norte-americano valia R$ 3,44, depois de chegar a mais de R$ 3,60 um dia antes. Para Carlos Cogo, um analista de mercado baseado em Porto Alegre, os produtores ainda aguardam uma definição clara da nova política econômica.
“O novo ministro da Fazenda e o novo presidente do Banco Central já indicaram que vão tentar manter o Real fraco para beneficiar os exportadores. Os produtores vão acompanhar isso de perto antes de vender estoques massivos e vão demorar um pouco mais do que o esperado”, disse Cogo ao Agriculture.com.
Frederico Schmidt, analista da Priore Investimentos em Curitiba, acrescenta que “haverá mais incentivos para o setor produtivo em geral e o governo não pensará em sufocar mais este setor com impostos. Incentivarão exportações, privatizações e farão concessões à iniciativa privada na infraestrutura e logística”.
Antes de deixar o governo, Rousseff antecipou o lançamento do Plano Safra. Para a temporada 2016/2017, os empréstimos disponíveis com subsídios serão de aproximadamente R$ 30 bilhões. O produtor médio deve pagar entre 8,25% e 12,75% de juros anuais.
Pela primeira vez na história, a Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) não participou do ato público de lançamento do Plano Safra como forma de protestar contra o governo anterior. “Sem dúvida, essa decisão unilateral não vai agradar. O setor agrícola agora é fundamental para equilibrar o país”, disse Mario Screiner, presidente da Comissão Política da CNA.
A Associação dos Produtores de Milho e Soja do Mato Grosso teve uma posição similar sobre o assunto: “Nós tivemos aumento da taxa de juros quando a safra nos frustrou. Nós sabemos que há uma crise econômica, mas as altas taxas de juros diminuem a produção”, declarou Endrigo Dalcin, presidente da Aprosoja.
Com relação ao trigo, os moinhos têm um grande desafio pela frente após a quebra de várias empresas. A Argentina é o provedor natural de trigo do Brasil por uma questão geográfica, e as projeções de produção no país vizinho são de 20% a 40% de expansão. “Quanto mais forte estiver o Real, o melhor será para o trigo norte-americano. Mas dependerá também de quanto for a produção argentina”, explicou o analista Luiz Carlos Pacheco, da consultoria Trigo & Farinhas.