Os javalis têm causado prejuízos a produtores rurais da região sul do Estado. Em Rio Brilhante, distante 163 km de Campo Grande, 22% das lavouras de milho safrinha foram danificadas devido ao ataque de animais silvestres, conforme o boletim da Casa Rural da Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária).
Segundo o pesquisador da Fundect (Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso do Sul) e da Embrapa Pantanal, Fernando Ibanez Martins, há três anos os ataques de javalis são estudados no Estado e não há um número certo de população, mas só em Rio Brilhante passa de mil de animais.
"Em 2005, os ataques eram notificados em sete municípios e em 2015, foram 46 cidades que relataram prejuízos com javalis, ou javaporcos", afirma o pesquisador sobre a expansão dos animais pelo Estado.
Martins explica que alguns animais são monitorados com coleira de GPS e há armadilhas fotográficas para avaliar o comportamento deles. "Acompanhamos quanto tempo os javalis permanecem nas lavouras, como andam no meio do mato e eles atacam todo o tipo de lavoura, milho, soja e cana-de-açúcar. Nas lavouras de milho, os estragos são maiores porque os pés são mais frágeis se comparado com a soja, então os produtores notam mais os ataques e conseguem contabilizar os prejuízos", explica.
Os monitoramentos começaram há três anos e há uma tendência no aumento da população desses animais. "Nas lavouras localizadas próximas de matas ciliares e rios, foi notado um prejuízo de 30% por causa desses animais em Rio Brilhante".
Ataques
Segundo o presidente do Sindicato Rural de Rio Brilhante, Luiz Otávio Britto Fernandes, há relatos de produtor no município que tem mil hectares de milho plantado e devido aos ataques de javalis, perdeu 50 hectares. "As perdas começam quando o milho é plantado e os animais fuçam a terra para comer a semente. Outra fase do grão que atrai os javalis é quando a planta começa a frutificar".
Com as armadilhas fotográficas, 80% dos animais registrados nas lavouras são javalis e javaporcos. "Não é só aqui que esses ataques acontecem, mas também em outras cidades, como em Ponta Porã, Maracaju, Dourados, Itaporã, entre outras", informa.
Fernandes explica ainda que para este ano, a colheita estimada de milho é de 70 sacas por hectare. "Com os ataques, os produtores perdem de R$ 100 a R$ 200 por hectare, cerca de trê ou quatro sacas por hectare, sem contar com a estiagem que prejudica também a produção do milho".
Existência e cruzamento
Conforme o pesquisador, os javalis chegaram em Mato Grosso do Sul em 1990 trazidos do Uruguai, pelos homens e entraram pela região Sul do Estado. As matrizes trazidas para cá, cruzaram com porcos domésticos, gerando os javaporcos. Este cruzamento apresenta elevada capacidade reprodutiva, pois a genética do porco doméstico é selecionada para um alto desempenho reprodutivo.
Segundo Martins, não houve controle populacional destes animais e os prejuízos começaram a ficar críticos a partir de 2005. "Os relatos de produtores do Estado devido aos ataques de javalis vem piorando a cada ano, mas o problema cresceu mesmo de 2005 a 2010".
Abate
Devido aos problemas econômicos e ambientais causados pelos javalis e javaporcos, o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) expediu uma instrução normativa em 2013, regulamentando o abate destes animais para controle, em todo território nacional. "É importante mencionar que o abate não foi liberado, mas sim regulamentado, ou seja, existem normas que devem ser seguidas para realizar este procedimento", alega o pesquisador.
Em Rio Brilhante, o método usado para captura é gaiola. Segundo o presidente do Sindicato Rural, a ação é efetiva e menos agressiva. "No verão, capturamos e abatemos 20 javalis e javaporcos. Isso é feito antes da plantação do milho começar a ser feita, para ter um resultado eficaz", informa.