Para quem ainda não assistiu ao filme “Ainda Estou Aqui” dirigido por Walter Salles que tem como estrela a talentosíssima atriz Fernanda Torres, a sinopse é a seguinte: “No início da década de 1970, o Brasil enfrenta o endurecimento da ditadura militar. No Rio de Janeiro, a família Paiva – Rubens, Eunice e seus cinco filhos – vive à beira da praia em uma casa de portas abertas para os amigos. Um dia, Rubens Paiva é levado por militares à paisana e desaparece. Eunice – cuja busca pela verdade sobre o destino de seu marido se estenderia por décadas – é obrigada a se reinventar e traçar um novo futuro para si e seus filhos.”
Assistir ao filme, vai muito além de acompanhar a família Paiva e sentir a alegria e boemia, de ver o sofrimento de Eunice Paiva ao “perder” seu marido para a ditadura, de sentir a repulsa ao ver essa mulher ser torturada nos porões do DOI-CODI dia após dia. Ver ao filme nos leva ao Rio de Janeira da década de 1970, uma cidade quase que provincial, viajar pela trilha sonora e acompanhar o agitos de uma época onde a sociedade passava por grandes transformações sociais e culturais, apesar da censura imposta pelo regime militar.
Fernanda Torres, a nossa eterna Fátima de “Tapas &Beijos”, a autora do incrível livro “Fim” dentre tantos outros trabalhos, se entrega a uma personagem doce e sutil, que vai crescendo no decorrer das 2h e 17min. de filme na sua luta para encontrar o seu marido, o engenheiro e Ex-deputado Rubens Paiva, tirado de sua casa em uma manhã para ir depor na delegacia, e nunca mais voltou e criar seus filhos. Fernanda Torres faz da sua participação nesse filme um espetáculo, e com maestria nos envolve e cativa, e no fim, nos leva a amar e admirar Eunice Paiva sem nunca a ter conhecido pessoalmente.
Só que o “soco no estomago”, o golpe final dessa obra, vem nos últimos 5 minutos, quando a nossa artista maior, e mãe na vida real de Fernanda Torres, a gloriosa Dona Fernanda Montenegro aparece diante dos nossos olhos interpretando a mesma mulher forte de outrora, uma Eunice Paiva já fragilizada pela doença de Alzheimer. Dona Fernanda não diz uma palavra, mas o seu olhar, seus traços, seus olhos simplesmente desconcerta o expectador, e nos joga ao chão, é uma coisa descomunal. Ao término dessa obra incrível, marcante, necessária e mais atual que nunca, precisamos de um tempo para conseguir levantar da poltrona do cinema e ter forças para ir embora.
Viva a arte brasileira, viva as nossa Fernandas e viva as tantas e tantas Eunices que lutam todos os dias para as suas sobrevivências e de suas famílias.
*Joãozinho Barboza é tecnólogo em recursos humanos com MBA em gestão de pessoas, produtor e agitador cultural desde 1994, diretor de cultura de Aparecida do Taboado no período de 2001 a 2004, diretor de cultura e turismo do município de Nioaque de 2005 a 2008, membro do fórum estadual de cultura e conselheiro estadual de cultura de 2002 a 2006. Delegado participante da IV Conferência Nacional de Cultura como representante da sociedade civil por Mato Grosso do Sul no ano de 2024.