Quando Manuella se queixou de um caroço na perna, a mãe, Sandra Batista, não poderia imaginar o que viria a seguir. Como o nódulo começou a provocar dores e aumentou de tamanho, Sandra decidiu levar a filha de cinco anos ao pediatra.
"Ficamos assustados por não saber o que era. Os exames de sangue não detectavam nada. Por isso, fomos para um infectologista para investigar", afirmou Sandra.
Para a mãe, os sintomas de febre, otite, dor de garganta e virose não passavam de uma gripe. "São sintomas muito parecidos com doenças comuns em crianças. Dificilmente as mães ou médicos conseguiam detectar", ponderou Sandra.
No entanto, foi só depois de uma bateria de exames de sangue, imagem e uma biópsia que foi confirmado o diagnóstico. O telefone tocou no meio da noite, mas as notícias não eram boas. Do outro lado da linha, a médica alertava que era preciso agir rápido para tratar a leucemia.
"Eu desmontei. Isso foi um soco no estômago para mim. Entrei em choque, desliguei o telefone, não acreditava naquilo", disse.
A família foi encaminhada para o tratamento na rede pública de saúde. Nesse momento, começou a batalha de Manuella para fortalecer seu sistema imunológico. Ao longo dos 33 dias seguintes, ela ficou internada no Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB/DF) para evitar infecções.
Já mais forte, ela pôde deixar a unidade e continuar o tratamento no Hospital da Criança. Ao chegar ao local, a menina se deparou com várias outras crianças. Ela não entendia por quê todas elas não tinham cabelos, e sentia diferente das demais.
Contudo, logo ela entenderia o motivo. Para combater a doença, Manuella precisou passar por transfusões sanguíneas e sessões de quimioterapia. Quando o cabelo dela também se enfraqueceu, foi a própria mãe que os raspou. A família se uniu para levantar a autoestima de menina.
"Vamos colocar brincos, passar batom", incentivava a irmã da menina. "Mamãe, eu sou linda", respondia Manuella. "Foi muito sofrido para mim, mas a Manuella é uma garota muito forte", lembra Sandra. Foi a própria menina que pediu para que cortassem o cabelo dela.
No Hospital da Criança, o acompanhamento multidisciplinar era oferecido não só para a menina, mas também para a família. "Tive acompanhamento psiquiátrico e nutricionista para me ajudar na alimentação dela", conta Sandra.
Isso porque a dieta tinha que ser regrada: os medicamentos corticoides aumentam o apetite de Manuella, mas frituras e gorduras em excesso estavam proibidas, conforme orientaram os profissionais.
Apesar de todos os cuidados, por vezes, a pequena paciente tinha picos de febre e precisa correr com a mãe para emergências de hospitais. Como o prontuário dela já estava cadastrado no Sistema Único de Saúde (SUS), o atendimento era mais ágil e preciso. As informações são integradas no banco nacional.
Recuperação
Depois do tratamento que durou dois anos e meio, a menina foi surpreendida pela notícia da remissão da doença. Sem entender muito bem o que o termo significava, perguntou aos médicos: "Os meus soldadinhos venceram?", perguntou esperançosa, se referindo às células sanguíneas. A resposta foi afirmativa.
Para Sandra, a agilidade na identificação da doença contribuiu para a recuperação da filha. "O êxito do tratamento, que não precisou de transplante, foi ter tido diagnóstico precoce. Quando isso acontece, o jeito é arregaçar as mangas e lutar", argumenta a mãe da menina.
Hoje, Manuella faz acompanhamento para evitar que o câncer retorne. "Ela irradia vida 24 horas, é nela que procuro viver", finalizou Sandra.