O dólar fechou em queda nesta sexta-feira (19), em movimento de correção após a forte valorização no dia anterior em meio ao cenário político conturbado, registrando sua maior alta em 18 anos. O dia também foi marcado pela intervenção do Banco Central no mercado de câmbio, que ajudou a puxar a moeda para baixo.
A moeda norte-americana caiu 3,98% a R$ 3,2571 na venda. Foi a maior queda diária desde novembro de 2008, segundo a Reuters. Na semana, o dólar subiu 4,26% em relação ao real.
Movimento de correção
Analistas ouvidos pelo G1 disseram que o mercado viveu nesta sexta um movimento de correção após o "pânico" no dia anterior, quando o dólar subiu 8,15%, a R$ 3,389 na venda.
Thaís Marzola Zara, economista chefe da Rosemberg Associados, explica que a leve recuperação dos mercados desta quinta foi um movimento de correção após o tombo no dia anterior. “Está todo mundo esperando para ver realmente quais vão ser as consequências, como vai se desenrolar a crise política. Enquanto tem essa pausa, está tendo alguma correção”.
Lucas Marins, analista da Ativa Investimentos, explica que recuperação desta sexta foi um movimento mais “racional” após a incerteza generalizada. “Ontem foi dia de pânico, ninguém sabia o que ia acontecer com o Brasil. O investidor mais avesso ao risco, a primeira coisa que pensa em fazer é ligar para a corretora dele e mandar vender as ações. Hoje, os investidores já assimilam os fatos, traçam os cenários possíveis e tomam decisões mais racionais.”
Os especialistas apontam ainda que a tendência para os próximos dias é de a volatilidade persista. Zara diz que ainda não é possível descartar a possibilidade de mais volatilidade nos próximos dias, “até porque a gente está começando a ver agora as divulgações das delações”. “O mercado está em ritmo de expectativa, aguardando para saber se as reformas econômicas foram de fato abortadas”.
Marins afirma que, no curto prazo, o mercado pode esperar “muita volatilidade até ter uma definição clara do que vai acontecer”. “Os últimos dias foram fundamentados na expectativa de que o Temer conseguiria aprovar as reformas. Agora, essas expectativas todas ruíram. No radar de curto prazo não há a menor ideia de que os deputados vão votar a reforma da Previdência e, no Senado, a reforma trabalhista também está travada”.
A Bovespa também teve dia de correção nesta sexta, e fechou em alta de 1,69%, aos 62.639 pontos, após ter perdido 8,8% na quinta-feira, na maior queda desde outubro de 2008.
Atuação do BC
A queda do dólar nesta sexta foi puxada ainda pelo reforço na intervenção pelo Banco Central. “O BC tem intervindo para conter essa valorização que o dólar teve ontem. O BC está provendo dólares para o mercado, e isso acalmou um pouquinho a percepção ruim no mercado de câmbio. Foi um fator positivo”, disse ao G1 Rogerio Storelli, gestor da GGR Investimentos.
O BC fez novo leilão de swap cambial tradicional – equivalentes à venda futura de moedas – para rolagem do vencimento de junho, no qual vendeu todos os 8 mil contratos ofertados, segundo a Reuters. E também vendeu o total de 40 mil novos contratos, equivalentes a US$ 2 bilhões, em leilão extra que se repetirá ainda pelos próximos dois pregões.
Além do BC, o Tesouro Nacional também anunciou intervenção em razão da volatilidade e fez leilões de títulos nesta sessão, e repetirá até o dia 23, de compra e venda de títulos.
Disparada no dia anterior
Na quinta-feira, o dólar subiu com força, com o mercado repercutindo notícia publicada no jornal O Globo de que o dono da empresa JBS gravou o presidente da república, Michel Temer, dando aval para comprar silêncio do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha. O Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou abertura de investigação contra Temer.
Na conversa gravada, Joesley confessou ter pagado propina a um procurador da República para ter acesso antecipado a investigações que o envolvia, reclamou de nomeações para cargos importantes no governo, defendeu queda mais acentuada da Selic e disse que "zerou" as pendências com o ex-deputado Eduardo Cunha. Mesmo diante do escândalo, Temer se recusou a renunciar.