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“Escolhi esse caminho, mas continuo sendo mulher com todas as possibilidades”, diz Irmã Ângela

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“O que Deus queria de mim? Para que Deus me chamava?”. Através de suas inquietações, Ângela Maria Jorge, hoje com 70 anos de idade, descobriu sua vocação religiosa ainda na adolescência, aos 18 anos, mas só aos 24 iniciou o processo para se tornar freira ao tomar a decisão de ‘entrar para o convento’.

Mais conhecida como Irmã Ângela, a atual diretora do Instituto Promocional Dom Afonso Maria Fusco é natural de Belo Horizonte-MG, criada no seio de uma família bem humilde, com nove irmãos – dos quais 7 ainda residem em Minas Gerais – e nunca teve dúvidas que seguiria o caminho da subserviência à Deus.

No fundo da casa que mora atualmente em Aparecida do Taboado com mais duas Irmãs, utilizando vestes simples e sempre calma ao falar, a freira recepcionou o Costa Leste News e explicou que desde muito jovem sempre esteve envolvida com as atividades da igreja, mas que com o passar dos anos isso foi ficando cada vez mais frequente.

“Escolhi esse caminho, mas continuo sendo mulher com todas as possibilidades”, diz Irmã Ângela

“Meus pais sempre me levaram à igreja. Eu frequentei a catequese desde os quatro anos de idade e ao completar 18 decidi ser catequista. Foi quando senti um desejo enorme de ajudar minha paróquia de um jeito diferente, então, fui sentindo que faltava algo que precisava ser preenchido interiormente, entende?”, explicou ela, contando como surgiu o chamado à vida religiosa.

Depois que fez o voto em 1981, Irmã Ângela seguiu servindo à Deus até ser transferida para Aparecida do Taboado, onde já está há sete anos. Ela foi enviada ao município com a missão de ser diretora do Instituto, onde a rotina começa cedo: às 05h30 a freira já está de pé para fazer sua primeira oração do dia.

Quando questionada sobre a falta de interesse de muitos jovens em seguir o mesmo caminho, ela não hesita em dizer que tanto as meninas quanto os meninos de hoje em dia “não dão escuta para as coisas de Deus e tem até medo de pensar sobre”, e garante que é muito feliz e realizada com a própria escolha,

“O convento não é fuga; a vida religiosa é um chamado de pessoas realizadas. Eu continuo sendo mulher com todas as possibilidades, mas eu decidi seguir esse caminho. A opção de me tornar Irmã foi uma escolha minha e me preenche completamente até hoje. É preciso entender e aceitar o chamado quando ele acontece; ninguém é menos feliz por isso”, ponderou.

Instituto
Irmã Ângela ressalta que quando uma jovem se torna freira passa a se doar completamente aos desígnios de Deus e assume a função de trabalhar para o bem das pessoas. E, dessa forma, a diretora explica que as Irmãs Batistinas estão em Aparecida do Taboado através da Congregação Santo Afonso Maria Fusco há 50 anos com o objetivo de evangelizar, “nós fundamos o Instituto para educar e promover crianças e jovens em situação de vulnerabilidade. Tem sido um trabalho árduo, mas feito com muito amor por nós, com o apoio da comunidade”.

O Instituto atende 120 crianças com idade entre 6 e 17 anos que, muitas vezes, não possuem acompanhamento integral dos pais, pois a maioria passa o dia no trabalho. A Irmã esclarece que o tempo em que as crianças e jovens estão no Instituto elas aprendem coisas positivas que fortificam valores e vínculos familiares, além de serem inseridas no mercado de trabalho através do programa Jovem Aprendiz que acontecem por meio da parceria com a AABB Comunidade. “Existe uma participação muito grande da população aparecidense em auxiliar a obra em que dirigimos. Às vezes eu olho para a dispensa e penso: vai faltar arroz, aí é quando o milagre acontece e surgem doações de onde menos se espera. É assim que acontece”, explica ela, maravilhada, afirmando não se sentir desamparada em momento algum.

“Escolhi esse caminho, mas continuo sendo mulher com todas as possibilidades”, diz Irmã Ângela

Posição da Mulher
Escolhida por nossa equipe de reportagem para representar as mulheres aparecidenses que se preocupam e trabalham ativamente na comunidade, Irmã Ângela fala das conquistas da mulher, mas reconhece que ainda existe muito espaço a ser ocupado, “hoje, graças a Deus, a mulher está conseguindo se libertar de um passado opressor, onde ela não tinha direitos e nem voz, mas eu penso que a mulher ainda precisa conquistar muitas coisas”.

Consciente das lutas que ainda precisam ser enfrentadas, Irmã Ângela diz que as mudanças são bem tímidas e faz uma releitura importante da atual conjuntura, “ainda existe pouca participação feminina na vida pública e na política. Eu acho que a mulher precisa ocupar mais espaço nesses campos e mostrar que tem capacidade”. Mas foi enfática em deixar claro que para ser respeitada a mulher precisa agir como tal e saber se posicionar, “acho que a mulher está caminhando, crescendo, buscando estudar. Mas algumas ainda precisam aprender a se respeitar para conquistar o respeito dos outros. A mulher precisa se valorizar e se posicionar”, finalizou.

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