O aumento do preço do leite nas gôndolas dos supermercados mineiros, algo em torno de 25% a 30%, em média, desde o começo de 2016, foi provocado por uma combinação de fatores que se estendem desde o ano passado, incluindo o encarecimento dos custos para o produtor, menos investimento nos campos, menor produção, ociosidade na indústria de laticínios e supermercados espremidos entre a manutenção da demanda e a escassez da oferta. Resultado: leite caro de ponta a ponta.
Desde maio do ano passado os custos aumentaram mais do que o preço recebido pelo litro, o que descapitalizou o produtor e fez os investimentos recuarem e a produção também. “É um efeito cascata”, afirmou o analista de agronegócios da FAEMG, Wallisson Fonseca.
Segundo ele, a captação de leite em Minas entre janeiro e maio reduziu 5% em relação ao mesmo período do exercício passado. Além disso, de maio de 2015 até o mesmo mês deste ano, os custos para o produtor aumentaram 26% enquanto o preço recebido pelo litro de leite cresceu apenas 14%. “O produtor não tem mais margem para investir. Ele está praticamente custeando sua produção, mas aumentar é inviável porque a conta não fecha”, lamentou Fonseca.
Entre esses custos, o que mais contribuiu para encarecer a produção foi a alimentação do rebanho, que, junto com a mão de obra, representa pelo menos 50% dos custos da atividade nos campos. Um dos principais insumos para a ração animal é o milho, que teve metade da segunda safra em Minas comprometida devido à seca. Com isso, o preço do grão disparou e aumentou 210% de maio de 2015 até maio deste ano.
Se nos campos os custos estão altos e o produtor descapitalizado, com margens enxutas e menor captação, isso também refletiu na indústria de laticínios, que atualmente trabalha com 30% a 40% de ociosidade, conforme destacou o presidente do Silemg (Sindicato das Indústrias de Laticínios de Minas Gerais), João Lúcio Barreto Carneiro.
Indústria
O representante da indústria mineira de laticínios explicou que o preço do leite, de 2015 para cá, não estava remunerando nem o produtor e nem a indústria devido aos elevados custos de produção no chão de fábrica. Neste ano, com recuo na captação, os custos continuaram aumentando e a situação piorou.
“O setor lácteo vem sofrendo nos últimos anos e isso piorou com a crise econômica nacional e o aumento dos custos, deixando muitas empresas com dificuldades financeiras. A indústria não conseguiu repassar integralmente para o mercado esse aumento e várias empresas trabalham no vermelho. Além disso, os bancos estão limitando o crédito para capital de giro”, argumentou.
Nas gôndolas dos supermercados do Estado, o leite só este ano subiu em média de 25% a 30%. Em outras palavras, o consumidor mineiro está pagando até 30% mais no litro de leite desde que começou 2016, nas contas da Amis (Associação Mineira de Supermercados).
“Temos redução na oferta, com o fornecedor repassando o leite mais caro e a demanda se manteve. É claro que ajustamos os preços, a cada semana temos uma surpresa, mas não houve alterações para cima nas margens”, pontuou o superintendente da Amis, Antônio Claret Nametala.
O superintendente explicou que, para tentar driblar os preços altos cobrados dos fornecedores, os supermercados mineiros adotaram a estratégia de reduzir o espaço entre as compras de leite. Dessa forma, as lojas trabalham com estoques menores, mas têm chance de comprar o produto a preços menores considerando as variações de uma semana para outra, por exemplo. “Este aumento de preços do leite veio em um momento ruim para os supermercadistas e para o consumidor, mas foge ao nosso controle”, concluiu.
Tendência é de novos aumentos
O preço do leite UHT atingiu, em junho, o maior patamar real da série do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, iniciada em 2010, com os valores deflacionados pelo IPCA de maio de 2016. O derivado negociado no mercado atacadista do estado de São Paulo teve média de R$ 3,6476/litro, 24,1% superior à de maio de 2016. Neste ano, a valorização acumulada é de expressivos 58,5%. Outros lácteos acompanhados pelo Cepea também seguem essa tendência. O queijo muçarela teve média de R$ 18,31/kg em junho, com alta de 14,08% em relação ao mês anterior e de 29,8% no ano.
O impulso vem da baixa oferta de leite no campo, que mantém acirrada a disputa entre laticínios pela matéria-prima. A menor disponibilidade se deve, especialmente, ao período de entressafra e aos elevados custos de produção, que desestimularam muitos produtores. Em junho, o preço do leite pago ao produtor subiu em todos os estados acompanhados pelo Cepea.
Na “média Brasil”, que pondera o valor pelo volume captado nos estados da Bahia, Goiás, Minas Geais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, o preço médio do leite ao produtor em junho foi de R$ 1,2165/litro (sem frete e impostos), registrando alta de 5,14% em relação ao mês anterior e 18% maior que o de junho de 2015, em temos reais. O preço bruto médio (com frete em impostos) foi de R$ 1,3276/litro, aumento real de 18% frente ao mesmo período do ano passado.
O aumento na média nacional em junho foi influenciado, principalmente, pelas elevações de 6% no preço de Santa Catarina e de 5,77% em Minas Gerais. As médias líquidas foram de R$ 1,2474/litro no estado catarinense e de R$ 1,2636/litro no mineiro.
O Índice de Captação de Leite do Cepea (IcapL/Cepea) teve queda de 1,63% em maio, considerando-se os sete estados que compõem a “média Brasil”. A Bahia registrou a maior queda na captação, de 6,87%, seguida por Goiás (-3,37%), Minas Gerais (-2,62%), São Paulo (-2,09%), Santa Catarina (-0,8%) e Paraná (-0,3%). Rio Grande do Sul foi o único estado que registrou ligeira melhora na captação em maio, de 0,73%. Para os próximos meses, a captação deve começar a se recuperar no Sul, devido às forragens de inverno e ao período de safra que começa um pouco antes nessa região.
Nesse cenário, a concorrência para captação por parte das indústrias de derivados lácteos deve seguir acirrada, mantendo os preços do leite em alta. Dos agentes entrevistados pelo Cepea, 97,8% (que representam 99,5% do volume amostrado) acreditam em nova alta nos preços do leite em julho, enquanto o restante (2,2%, que representam 0,5% do volume) acredita em estabilidade nas cotações – frente ao mês passado, houve diminuição no número de colaboradores que estima estabilidade nos valores. Nenhum dos colaboradores consultados estima queda de preços em julho. O levantamento de preços pago ao produtor do Cepea é mensal e conta com apoio financeiro da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras).
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