Em músicas que canta quando não está gravando “Amor de mãe”, Victor Hugo – o MC Cabelinho – faz questão de dizer que considera sua participação na novela das 21h uma vitória da favela.
“É resistência, sim, contra o preconceito. Eu mereço comemorar essa vitória, pela favela e pelo funk”, diz ao G1 o cantor de 23 anos.
Ele é cria do PPG, como é chamado o complexo do Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, no Rio, onde ele trabalhou como vendedor ambulante antes da carreira artística.
O cantor foi escolhido para interpretar o criminoso Farula em meio a outros jovens nomes da música, testados pela produção.
O diretor José Luiz Villamarim conta que queria lançar um rosto novo na novela, e buscou alguém que conhecesse a “linguagem” do personagem. A “leveza” de Cabelinho na forma de atuar chamou a atenção, segundo ele.
“Ele é muito inteligente, muito rápido. Tem talento. É claro que está num espaço que conhece, fica mais fácil interpretar. Mas, se continuar bem, pode se tornar um ator daqui a um tempo.”
Cabelinho diz nunca ter se imaginado nessa posição, e lembra que penou um pouco no início das gravações:
“No palco, você está lida com o público e precisa do calor dele interagindo contigo. No set, em frente às câmeras, a ‘vibe’ rola entre você e a pessoa com quem está contracenando. E também entre você e o diretor. São emoções bem diferentes.”
Passa nada e nem pode
Na música, ele transita entre o funk com apelo sexual e o consciente, com forte influência de rap.
As frases que inclui no repertório – “Passa nada e nem pode”, por exemplo, que já usou em cena como Farula – entraram no glossário de bordões do pop nacional.
Para 2020, Cabelinho é uma das principais apostas do funk. Trocou amassos com Anitta no clipe de “Até o céu” e tem parceria prevista com Rennan da Penha. O DJ saiu da prisão em novembro para se tornar um dos mais reconhecidos produtores da atual música carioca.
“As pessoas estão olhando o funk de outra forma. Não da forma como olham o sertanejo e o pagode. Mas está mudando”, Cabelinho analisa.
E diz ver muito do preconceito – que ainda existe – ligado ao fato do gênero não ter “papas na língua”.
“A gente fala a nossa realidade. Expressamos na música o que sentimos e queremos no momento, independentemente de ser sobre bebida ou até uma noite de prazer. O funk fala na lata da forma mais clara possível.”