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Artigo: As urnas falaram

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José Natan, do Podemos, foi eleito prefeito de Aparecida do Taboado e será o 19º chefe do executivo local desde que Oswaldo Bernardo da Silva assumiu a prefeitura em 1949. Trata-se do político mais jovem a vencer eleição para a prefeitura na história de Aparecida do Taboado. Em 1º de janeiro, José Natan, de 29 anos, tomará o lugar do prefeito José Robson Rodrigues de Almeida, de 63 anos – uma alternância de poder que será acompanhada por dramática mudança geracional na política local.

A eleição de José Natan não foi um feito menor. Ele desbancou figuras tradicionais do cenário político local, como Sirlei Melo, do MDB (por margem pouco maior de 300 votos), e o ex-prefeito Djalma Furquim, do PDT, numa eleição altamente concorrida que teve elevado percentual de abstenções (27%). Sirlei Melo, caso fosse eleita, teria sido a primeira mulher a comandar a cidade em mais de 70 anos de domínio masculino absoluto na prefeitura. Os eleitores de Aparecida do Taboado jamais elegeram uma mulher para a chefia do executivo (e, nessa eleição, deu tristeza constatar que apenas uma única candidata foi eleita vereadora, revelando o atraso na agenda de gênero na cidade).

A derrota de Sirlei Melo surpreendeu aqueles que confiam em pesquisas eleitorais. A pesquisa da Quality de São Paulo, publicada neste jornal em 7/11, apontava vitória provável da candidata do MDB, com 25,8%, e indicava que José Natan amargaria a penúltima posição, com 9,3%, à frente apenas de Rodrigo Chapéu. As urnas ousaram, porém, contrariar as pesquisas eleitorais, uma vez mais.

O triunfo eleitoral de José Natan, em chapa com o tenente Ávila, do PSL, levou ao comando da prefeitura de Aparecida do Taboado uma coligação de centro-direita que terá o desafio de oferecer respostas consistentes a vários problemas imediatos que a cidade enfrenta: (i) o alastramento do novo coronavírus, na esteira da segunda onda da pandemia que se avizinha; (ii) o aumento contínuo da criminalidade, no rastro da expansão do narcotráfico na cidade; (iii) a visível degradação da infraestrutura urbana, especialmente o asfalto; e (iv) o equacionamento do prolongado imbróglio relacionado com o escoamento no rio Paraná da água de esgoto tratada, em seguimento à campanha de mobilização (que o próprio José Natan ajudou a liderar) contra polêmica decisão da Sanesul.

Na condução da prefeitura, José Natan terá pela frente anos muito difíceis, com baixa arrecadação fiscal e orçamento público apertado, alguma oposição legislativa, problemas variados que se acumulam e uma população impaciente e incrédula na classe política. Contará a seu favor a experiência legislativa que conquistou nos últimos anos como vereador extremamente ativo e atuante e a capacidade que ele bem demonstrou em fazer uso das redes sociais para comunicar-se diretamente com a população.

Na Câmara de vereadores que se renova completamente, o novo prefeito poderá beneficiar-se de pelo menos dois candidatos eleitos com fortes ligações com a área de saúde (Marcinho e Patrícia) e com um candidato eleito com experiência reconhecida na área de esporte (Gustavo Neira). A experiência de seu vice (o tenente Ávila) na área de segurança pública poderá ser mobilizada para a implementação de política pública de prevenção da criminalidade – tema de altíssima complexidade que exigirá medidas de médio e longo prazo, inclusive o fomento ao esporte entre crianças e jovens.

A vitória de José Natan representa mais do que a renovação política, um bordão gasto que todos repetem nessas situações. Essa eleição mostrou que, de fato, mesmo nos pequenos municípios, o uso eficiente de redes sociais e a capacidade de interlocução direta dos políticos com a população são fatores cada vez mais decisivos nas disputas eleitorais. Sem eles, a eleição de José Natan certamente não seria possível.

As urnas falaramMarcos Vinicios de Araujo Vieira, 36 anos, é sociólogo.

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