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Artigo: SOS Mulheres na Política

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No artigo anterior (“As urnas falaram”, de 19/11), recordei algo espantoso: os eleitores de Aparecida do Taboado jamais elegeram uma mulher para a prefeitura desde as primeiras eleições em 1948. O mais próximo disso, em mais de 70 anos de emancipação do município, foi o segundo lugar conquistado pela candidata Sirlei Melo, do MDB, nas eleições municipais deste ano que consagraram a vitória de José Natan, do Podemos, para a chefia do Executivo.

Não é menos decepcionante a história de eleições de mulheres para a Câmara de Vereadores de Aparecida do Taboado. Em 19 eleições foram eleitos 120 homens e (pasmem!) apenas 8 mulheres para as cadeiras no Poder Legislativo local, incluindo a única candidata vitoriosa neste ano, Patrícia da Saúde. Sim, é isso mesmo que o leitor imaginou: uma mulher por década! A sub-representação feminina na política local constitui, de fato, um problema de natureza estrutural, que afeta os poderes executivo e legislativo.

Olhando mais de perto a história, o espanto só aumenta. Registros históricos mostram que somente em 1970, na 7ª legislatura da cidade, uma mulher tomou posse como vereadora de Aparecida do Taboado. Foi a senhora Albertina Lucas Furquim, mãe do ex-prefeito Djalma. A eleição da senhora Albertina parece haver sido, porém, um caso isolado e não configurou tendência. Os aparecidenses precisaram esperar 19 anos até que, em 1989, a senhora Ivone da Silva Muniz fosse eleita a segunda vereadora da cidade. Nada animador, não é mesmo? Já a terceira vereadora – Ariadne de Queiróz – assumiu funções legislativas 11 anos depois de sua antecessora, em junho de 2000, na condição de suplente do ex-vereador José Eduardo Santana, que teve mandato cassado. Sirlei Melo foi a quarta vereadora da cidade, eleita em 2000, e figurou como a primeira mulher a ocupar a presidência da Câmara Municipal.

A 15ª legislatura (2005-2009) destoou dos quadros anteriores e foi a que teve maior participação de mulheres – três das nove cadeiras na Câmara – com as eleições de Edileuza Gomes da Silva, Neide Furquim e Vera Cabral de Almeida. Os anos seguintes foram frustrantes, porém. De 2009 para cá, as mulheres simplesmente desapareceram da Câmara de Vereadores (na década de 2010 não houve uma única vereadora na cidade).

Nas eleições municipais que se encerraram na semana passada, 31 mulheres se candidataram para as 9 vagas da Câmara Municipal e, como se sabe, apenas Patrícia foi eleita. Se Patrícia vier a assumir a presidência da Câmara será a segunda mulher a ocupar essa posição em sete décadas de história política da cidade.

A título de comparação, em Três Lagoas foram eleitas cinco vereadoras nas eleições deste ano; em Jales (SP), três; em Cassilândia, Chapadão do Sul, Costa Rica e Santa Fé do Sul (SP), duas; e em Paranaíba, Selvíria e Aparecida do Taboado, uma única vereadora.

Nessas condições, seria bem-vindo se as mulheres de Aparecida do Taboado lançassem um amplo movimento para tentar mudar essa realidade. Que tal um “SOS mulheres na política”, de alcance suprapartidário, que reunisse as 31 candidatas a vereadoras deste ano e outras pessoas com simpatia pela causa? Caso seja criado, esse movimento poderia ajudar-nos a aprofundar o debate sobre as causas estruturais do baixo índice de representatividade política das mulheres em Aparecida do Taboado (e no seu entorno imediato) e a propor soluções para esse problema de raízes antigas e profundas.

PS. Uma notícia alentadora. O prefeito eleito José Natan, em entrevista concedida a programa da Rádio Cultura FM em 24/11, antecipou que sua Chefe de Gabinete será a coordenadora de sua campanha vitoriosa, Fernanda Ziviani.

Marcos Vinicios de Araujo Vieira, natural de Aparecida do Taboado, mora em Buenos Aires, na Argentina.

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