“Merece esta data grandes pompas e solenidades? Sim. Porque começou bem (…) e continua muito bem” (Frei Vital, em 1987, por ocasião da celebração de 25 anos de fundação da escola estadual que leva seu nome).
No próximo dia 1º de março, comemoramos sessenta anos de fundação da Escola Estadual Frei Vital de Garibaldi, seu jubileu de diamante.
Inaugurada no princípio de março de 1962, a escola foi o primeiro ginásio de Aparecida do Taboado. Chamava-se, a princípio, Ginásio Educandário Frei Mariano, em homenagem que frei Vital, fundador e primeiro diretor da nova escola, prestava a confrade seu que promovera a evangelização em Mato Grosso.
Naquele ano de 1962, frei Vital tinha 47 anos de idade e havia três anos que morava em Aparecida do Taboado. Era um religioso experimentado com ideias avançadas. Ordenado sacerdote na cidade gaúcha de Garibaldi em 1941, cumprira antes funções de relevo em sua congregação religiosa, a ordem menor dos Frades Capuchinhos, nas quais realizara sua vocação de educador e humanista por excelência. Em 1947, tendo exercido atividades pastorais em Garibaldi durante vários anos, mudara-se para o Porto, em Portugal, onde assumira a direção do seminário de sua ordem religiosa naquela cidade. Retornaria ao Brasil, em 1952, para fundar a Província Central dos Capuchinos no país alguns anos depois.
Aparecida do Taboado foi abençoada por poder receber no final da década de 1950 um educador da envergadura intelectual e ética do frei Vital. Após vários serviços prestados no Brasil e no exterior, o capuchinho fixou residência na cidade em 1959, com o objetivo de dirigir, como ele próprio descreveu, o “pequenino e provisório Seminário Capuchinho do Brasil Central, na Casa Paroquial, sob o nome de Nossa Senhora Aparecida”.
Uma vez instalado em Aparecida do Taboado, frei Vital logo percebeu o principal problema educacional enfrentado pelos estudantes locais e não demorou a pôr mãos à obra e mobilizar a população. Naquele momento, então com apenas onze anos de emancipação política, Aparecida do Taboado carecia de uma escola para alunos que pretendiam cursar o ginásio (a partir do atual 5ª série do ensino fundamental) – havia no município apenas uma escola de ensino primário. No final da década de 1950, os alunos que pretendessem prosseguir os estudos e cursar o ginásio tinham que se mudar para cidade com melhores condições educacionais – o que era permitido somente para poucas famílias locais com boas condições financeiras.
Nesse contexto, inspirado pelo clamor popular, frei Vital redigiu e encaminhou carta ao frei Alfredo Sganzerla, então Superior da Ordem dos Capuchinhos, para informar-lhe sobre o projeto que tinha em mente de construção de um ginásio em Aparecida do Taboado:
“O povo pediu-me que lhe erguesse um ginásio, aceitei o convite”.
Escrita com simplicidade apostólica, a frase de frei Vital contida na carta — pediu-me, aceitei — revela a vocação de serviço que caracterizou a vida daquele homem que parecia jamais medir esforços para promover a educação e espalhar o humanismo por onde passava.
Reunidos os recursos em quermesses e com a ajuda da prefeitura e do governo estadual, a escola projetada como o primeiro ginásio da cidade começou a ser construída em 1960 sob a liderança firme de frei Vital. Concluídas as obras dois anos depois, a escola foi inaugurada em 1º de março de 1962, em cerimônia presidida pelo próprio fundador e pelo então prefeito João Chama, e acompanhada pelo corpo docente e pelos novos estudantes e seus pais. A respeito da inauguração do ginásio, frei Vital escreveu:
“A alegria do fato inundou a cidade toda. A juventude vibrou e exclamou: viva o ginásio!”
Tanto entusiasmo não era para menos. A obra esplêndida que se inaugurava, projetada com arquitetura funcional, passou a abrigar o ginásio que democratizou o acesso à educação para os estudantes da cidade. Afinal, a partir de então, os alunos provenientes de famílias sem recursos financeiros podiam aspirar a seguir sua formação educacional e cursar o ginásio — uma possibilidade que antes lhes era negada.
A democratização do ensino, por meio da construção do primeiro ginásio em Aparecida do Taboado, constitui legado permanente de Frei Vital. Seu exemplo de liderança e educador permanece-nos, ainda hoje, como fonte de inspiração e referência perpétua.
Ao recordar o legado de frei Vital, é necessário também assinalar o valor da contribuição de gerações de diretores, professores e funcionários que sustentaram ao longo das últimas seis décadas, com seu talento e dedicação, o projeto magnífico iniciado pelo fundador de educar milhares de estudantes aparecidenses. Como bem disse certa vez Maria Ipanira da Silva Pereira, a merendeira mais antiga da escola, ali “se trabalha para a formação de bons cidadãos para a sociedade aparecidense, para o estado e para o Brasil”. Não há certamente vocação mais nobre.
De minha parte, tendo estudado na E.E. Frei Vital de Garibaldi por dez anos, entre 1990 e 2000, sou particularmente grato por haver feito parte da história dessa escola a que tanto devemos. Quero registrar minha mais penhorada gratidão pelo ensino que ali recebi de dezenas de professores, pelos valores fundamentais que herdei e pela assistência profissional e carinhosa que sempre me prestaram a direção e os funcionários da escola.
Às vésperas do jubileu de diamante de nossa escola, o momento é oportuno para repetirmos, como aquela juventude de 1962 que se entusiasmou com o primeiro ginásio que se inaugurou na cidade, o mesmo gesto de alegria e contentamento, vibrando e exclamando:
Viva a escola Frei Vital de Garibaldi!
Marcos Vinicios de Araujo Vieira é diplomata de carreira. Foi aluno da E.E. Frei Vital de Garibaldi entre 1990 e 2000, tendo sido alfabetizado pela professora Jucilene de Paula Martinho Queiroz, de quem guarda uma carinhosa lembrança, e educado por outros tantos professores, aos quais rende esta pequena homenagem dedicando-lhes este artigo.
