Aparecida do Taboado (MS) – Um projeto desenvolvido pela professora de Geografia, Rosana Moreira, da Escola Estadual Ernesto Rodrigues, despertou o interesse dos alunos do 3º ano do Ensino Fundamental para questões de acessibilidade. Com o uso de cartazes – que foram espalhados pela escola, os alunos mostraram o dia a dia do estudante Luís Netto Félix, de apenas 9 anos, e através de desenhos ilustrados por eles mesmo, apontaram as dificuldades enfrentadas pelo colega.
Luís Netto nasceu prematuro, diagnosticado com paralisia cerebral. Mas, segundo as professoras, ele é bastante inteligente. Seu problema, de verdade, está nas várias dificuldades que ele encontra para se locomover dentro da escola. Sem rampa de acesso para a quadra e refeitório, ele conta apenas com a força da professora de apoio Ingrid Ferraz e com a boa vontade dos coleguinhas, que não o abandonam durante nenhuma atividade. Aliás, é uma briga para decidir quem leva o andador do Luís enquanto Ingrid o ajuda a descer os degraus. Foi necessário até criar uma lista para organizar a rotatividade dos ‘voluntários’, “com a lista ficou mais fácil. Agora, todos os dias, temos um ajudante diferente e assim todo mundo colabora”, conta a professora, aos risos.
Mas, em dias de chuva, isso piora muito e às vezes até impede que Luís Netto chegue à quadra, “é que ele ‘tá’ crescendo e ficando mais pesado. Como não temos uma rampa e o acesso não é coberto, em dias de chuva fica bem mais complicado”, conta Ingrid.
Mas as escadas não são os únicos obstáculos para ele. A escola ainda precisa se ajustar bastante para garantir a acessibilidade de pessoas com deficiências, seja de cadeirantes ou usuários de andadores e muletas. Há desníveis e degraus entre os corredores e também na entrada das salas de aula. Somente o banheiro é adaptado e apenas uma das salas de aula ganhou acesso rebaixado, mas ela não é a de Luís Netto.
No entanto, este cenário não é exclusivo da Escola Ernesto Rodrigues. Muitas escolas do Estado – e em todo o país – enfrentam estas mesmas dificuldades e já estão tendo que se readequar. O diretor Mauro Timpurim explicou que desde o ano passado a unidade solicitou ao Governo do Estado que faça as obras de adaptação, principalmente a construção da rampa. E a resposta tem sido: aguardar.
O fato é que Mato Grosso do Sul conta com 365 escolas e o Governo vem fazendo as adequações de forma gradativa. Apesar de todo o esforço da direção da Escola Ernesto Rodrigues, que não esmorece e continua cobrando, "cabe ao Estado realizar o projeto e custear a obra", afirma o diretor. Enquanto isso, as crianças vão se conscientizando sobre a importância da acessibilidade e esperando que ‘os grandes [adultos]’ façam o direito de ir e vir, de fato, sair do papel.
Desabafo
No Facebook, a mãe do estudante, fisioterapeuta Bruna Félix, fez uma linda e emocionante publicação a respeito do projeto e da reação das crianças que estudam com o filho. Como forma de desabafo, ela ainda aproveitou o espaço para falar sobre a falta de conscientização e empatia das pessoas, “(…) Eu sei que existe tanta gente que adere essa causa, que eu luto a [sic.] tanto tempo. É a questão da acessibilidade, é o direito mais simples que todo cidadão pode ter, todo ser humano tem, porém as vezes encontramos tanto empecilho, como por exemplo auxílio de rampa, calçadas sem acessibilidade nenhuma, as placas, as sinalizações de uma vaga é o direito deles sim, não é um previlégio [sic.], é uma necessidade, que muitos não respeitam, é falta de empatia do ser humano (adulto), não se colocar no lugar do outro que necessita desse direito”, escreveu ela.
Ela ainda agradeceu o apoio de professores, da Escola e dos estudantes, “hoje ao chegar na escola Ernesto Rodrigues me emocionei ao ver esses cartazes espalhados na escola, feito pelos amiguinhos de sala. Agradeço à escola Ernesto Rodrigues por aceitar, apoiar e cuidar de uma criança com necessidade especial. Sei também que diretor e coordenador não mediu [sic.] esforços para conseguir essa rampa, essa adaptação na escola com o estado. Muito obrigado a professora Rosana por desenvolver esse trabalho, que ficou lindo com os alunos do terceiro ano A. Professora e cuidadora Ingrid Graziani Ferraz por acompanhar o Luís Netto todos os dias com tanto amor, carinho e dedicação. E os alunos do Terceiro ano A que compreendem, entendem e respeitam o colega com a dificuldade que ele apresenta”.