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Setembro Amarelo: Combate ao suicídio é preocupação constante na ALEMS

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Algumas questões são preocupações permanentes na sociedade. No entanto, recebem campanhas, com cores, mês específico, em uma abordagem direcionada para chamar a atenção e para reascender periodicamente o debate. São aquelas questões que jamais podem ser esquecidas. É dessa necessidade que surgiu a campanha Setembro Amarelo, em combate ao suicídio.

O tempo em que vivemos é chamado por alguns sociólogos de pós-modernidade. As características são relações superficiais, corrida contra o tempo, individualismo, consumismo, uma constante preocupação em ter mais, ser mais, e, ao chegar onde se esperava, um tremendo vazio. Sempre nos parece que falta algo. E, com tanta gente apressada, com quem conversar sobre esses sentimentos? E quando esses sentimentos ultrapassam a barreira da vontade de viver, e se aproximam da morte? Em tempos de pandemia e em tempos de tecnologia, como ficam as pessoas que precisam ser ouvidas?

São diversos os fatores que levaram a Organização Mundial da Saúde a considerar que a depressão é “o mal do século”. Mato Grosso do Sul figura entre os estados brasileiros com maior índice de suicídios no Brasil de acordo com dados do Ministério da Saúde. Nesse sentido, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS) é comprometida com a promoção da saúde mental no Estado. Em tempos de pandemia, a preocupação é por cuidados redobrados.

“Este tema tem sido recorrente nos últimos tempos, especialmente em decorrência deste ano atípico em virtude da pandemia no novo coronavírus, um inimigo mundial que nos pegou desprevenidos e, infelizmente, deixou centenas de milhares de vítimas fatais, além de ser responsável por graves crises econômicas em todo mundo”, afirmou o presidente da ALEMS, deputado Paulo Corrêa (PSDB). O parlamentar destacou que “não apenas a saúde física, mas também a saúde mental precisa estar em nosso horizonte de preocupação”.

O Poder Legislativo é atuante na questão. “A ALEMS cumpre seu papel, não apenas na questão legislativa, com aprovação de leis e proposições que chamam a atenção para essa questão, como também na participação efetiva da campanha”, afirma o presidente. Para trabalhar o tema, a ALEMS conta atualmente com a Frente Parlamentar em Defesa da Saúde Mental e Combate à Depressão e ao Suicídio, coordenada pelo deputado Marçal Filho (PSDB).

O governador Reinaldo Azambuja (PSDB) sancionou a Lei 5.448, de autoria do deputado, que determina a afixação de cartaz informando o telefone do Centro de Valorização da Vida – 188, nos espaços públicos, em local de fácil visualização. A medida visa fortalecer as ações de combate à depressão e prevenção ao suicídio.

“Essa questão do suicídio está diretamente ligada a transtornos mentais. É um momento desesperador no qual a pessoa não sabe lidar com isso. E divulgamos o número 188, porque, embora seja importante desabafar, é preciso buscar ajuda capacitada, alguém que vai ouvir sem fazer julgamentos, ouvir mais do que falar. Por vezes, um conselho que parece bom, pode agravar ainda mais a situação”, explicou o deputado Marçal.

Por essa questão, Marçal também afirma a necessidade de mais psicólogos e psiquiatras na rede pública de saúde. “Infelizmente, o foco hoje tem sido muito direcionado ao coronavírus, mas a saúde mental é muito importante, a falta de saúde mental enseja muitas outras doenças”, defende o parlamentar.

Saúde Mental
Psicóloga da saúde mental em um dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) em Campo Grande, Taiana Rondon explica a ligação entre a depressão e outros transtornos mentais e o suicídio. “O transtorno mental não é uma questão espiritual. A tentativa de suicídio está associada a algum transtorno mental, que pode ser esquizofrenia, transtorno bipolar, mas está muito mais associada à depressão”, afirmou.

Taiana também destaca os sentimentos e pensamentos que surgem no desenvolver da doença. “A pessoa ao chegar em uma grave tentativa de suicídio já está vivendo um sofrimento muito grande. Entregue a um sentimento ruim, de tristeza, desânimo e desamparo. Ela não sente vontade de morrer, mas ela sente vontade de matar esse sentimento. De acabar com o sofrimento”.

Em Mato Grosso do Sul, assim como em todo o País, a maioria das pessoas são de religiões cristãs e, por vezes, confundem a tristeza e sentimentos causados pela depressão com alguma falta de ligação espiritual, o que não é a realidade da doença. “Não é falta de Deus, mas é um desespero tão grande causado pela doença, pelo transtorno mental, que a pessoa não consegue ver a saída daquele abismo de sentimentos ruins”, explica a psicóloga.

Ela afirma que algumas pessoas, quando percebem esses sentimentos, para evitar o suicídio, buscam ajuda de diversas formas. “Algumas pessoas de fato se apegam a fé para sair desses sentimentos, outras se apegam em familiares, entes queridos. E a melhor forma de se prevenir é falar sobre o assunto”, destacou.

“Muitas vezes as pessoas não falam, porque é um tabu. Falar que está com vontade de morrer continua sendo um tabu. Mas precisa ser falado,  existem locais de ajuda para pessoas que estão passando por uma situação dessa, onde elas saberão que não estão sozinhas”, disse Taiana.

Ajuda a quem ficou
Para as pessoas que sofrem de depressão, existe o 188, para prevenção ao suicídio. Mas e para quem ficou? Quem perdeu um ente querido por uma doença tão cruel? A busca por terapia e por ajuda, para passar pelo período de luto e ser ouvido, também é importante.

Em Mato Grosso do Sul existe o Grupo de Apoio Espiritual às Pessoas Enlutadas (GAEPE). Não é um grupo de terapia, embora conte com duas psicólogas voluntárias, e não é um grupo religioso especificamente. É um grupo que aceita a participação de qualquer pessoa que sofra pela perda de alguém querido.

Há 13 anos este grupo recebe pessoas que precisam falar sobre seus sentimentos, pessoas que precisam ser ouvidas. Luciene Ferreira, fundadora do grupo, explica que quem perdeu um ente querido precisa se livrar da culpa para viver em paz. “É difícil ter forças para lidar com uma situação tão penosa, com a situação de suicídio na família. É preciso buscar ajuda psicológica. O luto não é linear, é uma caminhada até alcançar um patamar em que só fica saudade. Lembranças boas. Um lugar onde só fica o amor”, descreve.

Ao dividir as experiências com outras pessoas, é possível perceber que ninguém está sozinho na dor. “O interessante é que os que estão participando há mais tempo já começam a auxiliar. Dizem que vale a pena lutar, para não se deixar arrastar, que vai passar. No tempo de cada um”, afirma Luciene.

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