Aparecida do Taboado (MS) – No mês em que o assunto é a prevenção ao suicídio, o Costa Leste News ouviu a psicóloga Anna Carolina Batalha para discutir a questão de forma prática e técnica, objetivando compreender melhor este universo que a cada 40 segundos tira a vida de uma pessoa no mundo.
A profissional abordou questões importantes para entendermos como funciona o pensamento de uma pessoa predisposta ao ato e o que fazer em casos como esse. Anna Carolina ainda destacou a importância de quebrar alguns tabus em torno do assunto para ações de prevenção e cuidado possam ser desenvolvidas.
Leia a entrevista na íntegra:
CLN: Como o suicídio deve ser encarado pela sociedade?
Anna: Primeiro que não devemos tratar este assunto como um tabu, algo velado, que deve ser escondido. A Organização Mundial da Saúde (OMS) traz dados preocupantes, afirmando que o suicídio provoca a morte de uma pessoa a cada 40 segundos no mundo. É um grave problema de saúde pública.
O tabu que se criou em torno deste assunto impede a procura de ajuda. Precisamos encará-lo como um problema que requer atenção tanto dos familiares das pessoas que possuem a ideação suicida (desejo de tirar a vida), quanto dos profissionais da área de saúde mental, pois o medo de falar, como se fosse contagioso ou como se estivéssemos estimulando as pessoas a realizarem o ato impossibilita criarmos ações de prevenção e de cuidado com aqueles que precisam, além do que, discutir a questão é um papel fundamental e estratégico para evitar novos casos.
CLN: O que leva uma pessoa a atentar sobre a própria vida?
Anna: O suicídio é um fenômeno complexo que não possui respostas simples, mas uma interação de múltiplos fatores. Ele nos remete ao sofrimento mais profundo do ser humano. Quando ocorre não afeta apenas a pessoa que cometeu o suicídio, mas todos aqueles que estão ao seu redor.
Determinar qual é o motivo real que desencadeia o suicídio não é uma tarefa simples; ele começa a ser pensado como uma situação onde a pessoa está em desesperança total. Pode ser por motivos de perda, términos, separações, morte de um ente querido, enfim, situações que coloquem este indivíduo em contato com a dor que, naquele momento, ele não consegue apresentar condições mentais e emocionais necessárias para buscar o enfrentamento desses tipos de situações de outra maneira. Ele está em profundo processo de sofrimento mental e o suicídio nem sempre é o desejo, de fato, de atentar contra a própria vida, mas de encontrar a maneira mais rápida de superar o sofrimento que, para aquele indivíduo, é insuportável.
CLN: Que tipo de ajuda/tratamento esta pessoa precisa?
Anna: Independente do motivo que tenha levado o indivíduo a pensar em atentar contra a própria vida, este evento requer muita atenção. Qualquer ato suicida deve ser levado a sério e requer avaliação imediata dos profissionais da área de saúde. Muitas vezes, o indivíduo que comete uma tentativa de suicídio pode negar que de fato exista um problema e não aceite tratamento, contudo, é necessário que tanto o indivíduo quanto as pessoas que estão ao seu redor busquem auxílio psicológico, psiquiátrico e, em casos de lesões graves, busque o atendimento de saúde o mais rápido possível.
O acolhimento familiar, o tratamento psicoterápico e medicamentoso – se necessário – serão a base necessária para que este indivíduo possa restabelecer a condição física e emocional, e através do autoconhecimento busque novas maneiras de enfrentamento aos obstáculos e problemas cotidianos.
Lembrando ainda que, além da rede pública de saúde (inclusive o CAPS), o indivíduo ainda pode recorrer ao CVV – Centro de Valorização à Vida, que realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo por telefone, e-mail e chat 24 horas todos os dias. Basta ligar para 188 ou acessar https://www.cvv.org.br/ para saber mais sobre a instituição, seus serviços e os demais canais de comunicação online. Em abril deste ano, o CVV atendeu quase 300 mil ligações.
Perfil do Profissional
Anna Carolina Alves Moreira Lara Queiroz Batalha – Formada em Psicologia pela Uniderp em 2008, com especialização em Psicologia Hospitalar e Saúde pelo Hospital das Clínicas, da Universidade de São Paulo-SP, e pós graduação pelo Instituto Libera Limes, de Campo Grande/SP. Atende atualmente no Centro de Referência Especializada em Assistência Social – CREAS, de Aparecida do Taboado.