Elevado custo, queda da produção, falta do incentivo, importação e desmotivação do produtor, estão entre os principais problemas da cadeia produtiva do leite de Mato Grosso do Sul. A busca de políticas para enfrentar essa situação será intensificada na Assembleia Legislativa através da Frente Parlamentar do Leite, cujos membros tomaram posse na tarde desta terça-feira (10), durante reunião realizada no Plenário Deputado Júlio Maia, na Casa de Leis. O encontro foi proposto pelo deputado Renato Câmara (PSDB), coordenador do grupo de trabalho.
O deputado informou que 19 parlamentares e 29 instituições integram a Frente. “Historicamente, os produtores de leite vêm discutindo diversos problemas do setor em seus sindicados, nas associações. Agora, esse debate será feito, de modo intensificado, na Assembleia Legislativa, através desta Frente Parlamentar. Vamos propor projetos de lei, buscar políticas de governo para melhorar a situação dos produtores”, afirmou Renato Câmara.
Durante a reunião, titulares e suplentes de entidades ligadas à cadeia produtiva do leite assinaram o termo de posse (veja a relação no fim da matéria). Encerrado o ritual de posse, foram apresentadas dificuldades enfrentadas pelo setor em Mato Grosso do Sul e mencionada a experiência em andamento em Goiás.
Cenário crítico
“O cenário de Mato Grosso do Sul é crítico”, avaliou o presidente do Núcleo dos Criadores de Girolando do Estado, Marcelo Renck Real. Números mostrados por Real ajudam a dimensionar esse quadro. Em duas décadas (de 1990 a 2010), a produção sul-mato-grossense subiu de 399 mil para 511 mil litros, alta de 28%, conforme informou Marcelo Renck. No mesmo período, o crescimento contabilizado no Brasil foi de 118% e, na região Centro-Oeste, de 190%.
Outro dado, apresentado por Renck Real, mostra que, de 2014 a 2018, a produção de leite em Mato Grosso do Sul caiu 41,52%. O presidente do Núcleo dos Criadores de Girolando também discorreu sobre outro problema: a importação. Até 2014, o Estado era superavitário na balança comercial do leite, com produção de 528,73 mil litros e exportação de 78,23 mil litros. No entanto, desde 2015 registra somente saldos negativos na balança. Em 2018, por exemplo, a produção de leite em Mato Grosso do Sul somou 309,211 mil litros e precisou importar 141,289 mil litros.
Apesar dos números, o setor do leite de Mato Grosso do Sul pode crescer de modo significativo. “O Estado tem muito potencial”, afirmou Marcelo Renck. Entretanto, de acordo com ele, é preciso superar o círculo vicioso, formado pela ausência de incentivo governamental, a renda reduzida do produtor e baixa competividade da indústria. “O problema não está apenas no governo, no produtor e na indústria, mas nos três em conjunto”, afirmou. “Se nada for feito, o setor de leite do Estado está fadado ao insucesso contínuo”, finalizou.
Experiência goiana
Caminhos para a solução do problema podem ser buscados em experiências de outros estados, como Goiás. O deputado goiano Amauri Ribeiro (Patriota) falou sobre a situação do setor do leite em seu estado e o movimento que busca saídas para as principais dificuldades. “Chegamos a vender o leite por 75 centavos há um ano. Isso é uma vergonha, um tapa na cara do produtor”, disse o parlamentar. Entre os fatores dessa desvalorização, está a importação elevada do leite pela indústria.
No processo para mudar esse quadro, está sendo fundamental a união entre os produtores, conforme afirmou o deputado. Eles pressionaram o governo goiano a criar mecanismo para reduzir a importação de leite. Com isso, ficou decidido que os laticínios que deixassem de comprar do produtor local para importar perderiam incentivos fiscais.
O deputado Amauri Ribeiro, apoiado pelos produtores, criou um programa, denominado “Beber mais leite”. “Nesse programa, colocamos a ‘Pauta da Dignidade’. É tão simples que chega a ser banal”, disse o parlamentar. Na “Pauta da Dignidade”, os produtores de leite exigiram da indústria a antecipação do pagamento e a informação do preço. Na concretização dessa pauta, os produtores goianos contam com a intermediação do governo. “No dia 20 deste mês, teremos uma reunião em que será determinado pelo governo que os laticínios antecipem o preço”, informou.
Outras autoridades, ligadas ao setor do leite, também falaram durante a reunião. Encerradas as falas, o deputado Renato Câmara lembrou que o primeiro encontro foi apenas para tomada de posse dos membros da Frente Parlamentar e para apresentação do quadro do setor do leite sul-mato-grossense. A experiência de Goiás servirá para discussões, nos próximos encontros, sobre as possíveis ações que poderão ser realizadas por Mato Grosso do Sul.
Além do coordenador Renato Câmara, a Frente Parlamentar do Leite tem a participação dos seguintes deputados: Antônio Vaz (Republicanos), Capitão Contar (PSL), Coronel David (PSL), Eduardo Rocha (MDB), Evander Vendramini (PP), Herculano Borges (Solidariedade), Jamilson Name (PDT), Lidio Lopes (PATRI), Lucas de Lima (Solidariedade), Marcio Fernandes (MDB), Neno Razuk (PTB), Onevan de Matos (PSDB), Paulo Corrêa (PSDB) e Professor Rinaldo (PSDB).