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Por que a insistência nesse porto esquecido?

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Este é o terceiro artigo da série histórica sobre o Taboado. Os dois primeiros podem ser lidos aqui e aqui.

O primeiro, publicado em 26 de abril, informa sobre a fundação do porto nas barrancas do rio Paraná em julho de 1837, quase duzentos anos atrás. O segundo, mais recente, comenta hipóteses sobre a origem do nome que prevaleceu – Taboado – e registra menções ao porto em antigos relatos de imprensa. Um fato surpreendente foi destacado: o engenheiro Olavo Hummel, a serviço do governo paulista, recomendou a construção de uma ponte sobre o Paraná em relatório de 1895. A indicação coincidiu com o ponto em que se levantou afinal a ponte rodoferroviária Rollemberg-Vuolo, inaugurada em 1998, um século depois.

O Taboado foi desmantelado em 1973, em consequência da formação do reservatório da usina hidrelétrica de Ilha Solteira (SP). Ora, por que insistir na história desse porto já desaparecido? Qual o interesse afinal?

Pelo menos dois aspectos podem ser sublinhados. O primeiro diz respeito ao povoamento do sul de Mato Grosso e oeste de São Paulo. A instalação do porto foi um dos primeiros vetores de povoamento da região, reforçado pela abertura da Estrada Boiadeira do Taboado no final do século XIX. Entre Santana do Paranaíba e Piracicaba – região por muito tempo conhecida por “sertão desconhecido” – não havia senão povoamentos indígenas até 1850. As primeiras benfeitorias do povoado de São José do Rio Preto – “meia dúzia de palhoças e uma igrejinha em construção”, conforme descrição do visconde de Taunay – foram erguidas em 1852. Municípios paulista como Votuporanga, Fernandópolis, Jales, Santa Fé do Sul e Rubineia surgiram muitas décadas depois, a partir da década de 1930.

O segundo aspecto a ser destacado remete à história de integração entre São Paulo e Mato Grosso. A fundação do Taboado e a abertura de picada de que fez parte foram o primeiro capítulo do processo de integração entre as duas províncias. Note-se que, até a década de 1830, ambas províncias permaneciam praticamente isoladas entre si por via terrestre. No século XX, a integração regional ganhou impulso com a Estrada Boiadeira do Taboado (entre 1880 e 1960), a Estrada de Ferro da araraquarense e a rodovia Euclides da Cunha. A inauguração da ponte rodoferroviária Rollemberg-Vuolo foi o desfecho dessa história.

O contraste entre o princípio e o desfecho do processo de integração entre São Paulo e Mato Grosso (incluindo Mato Grosso do Sul) não poderia ser maior. Entre a fundação do Taboado (1837), um porto rudimentar sustentado por madeiramento tosco, e a inauguração da ponte rodoferroviária (1998), uma obra de arte da engenharia moderna, transcorreram mais de 160 anos de história.

Por que a insistência nesse porto esquecido?

Este artigo faz parte de uma série sobre o porto e a Estrada Boiadeira do Taboado, ainda em pesquisa. Relatos e fotografias sobre ambos serão bem-vindos, podendo ser encaminhados ao seguinte e-mail: [email protected]

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